sexta-feira, 29 de março de 2013

Constatação

Tenho a impressão de que desde que sou mãe, há uma centena de atitudes dos meus pais (anteriormente incompreensíveis) que passaram a ser muito claras e muito lógicas.

domingo, 24 de março de 2013

Reminiscências

Tinha uma adoração especial pelo meu avô paterno que nos deixou há mais de uma década. Este avô tinha sempre uma brincadeira ou tempo livre para os netos, ou uma forma de nos sentirmos especiais ao pé dele. Eu tinha um orgulho imenso no meu avô. Dele guardo muitas lembranças, desde as brincadeiras, à forma carinhosa como falava connosco, ao colo e ao cheiro. O meu avô cheirava a campo e a oliveira. Quando estava ao colo dele, ou mais tarde, quando ele me abraçava sentia sempre aquele cheiro que nunca soube muito bem descrever mas que ficou gravado na minha memória de forma indelével. 
Em contrapartida, a minha relação com o meu pai foi sempre um bocado difícil. Por razões que nunca compreenderei muito bem, senti sempre um certo distanciamento dele em relação a mim, uma forma de tratamento que nunca se pautou pela compreensão, nem pela tolerância e, claro, sempre me senti magoada por causa disso. Durante quase toda a minha existência tentei mudar a reacção dele para comigo, de todas as formas possíveis e imagináveis. Nunca consegui. E, se em criança e adolescente esse facto foi um problema para mim, com o passar dos anos passei a encarar com outra naturalidade e a aceitar a situação como um facto que não teria 'volta-a-dar'.  
Um dia destes, o meu pai veio visitar a M. e quando ele saiu reparei que deixou no ar um cheiro que eu conhecia de outros tempos: a campo e a oliveira. Desejo do fundo do meu coração que a M. tenha um avô tão especial como eu tive.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Paradoxos II

Não quero fraquejar, mesmo sentindo as lágrimas que não param de correr. Quero continuar a ser o pilar da família que criei, quero ser a mamã forte da M., quero ser a profissional que vai à luta e consegue alcançar os seus objectivos. 
Quero acreditar que é possível, que a mediocridade de certas partes do meu dia e a ausência total de boas perspectivas profissionais serão passageiras. Não posso deixar que os dias e as noites da minha vida sejam apenas uma escorrência de segundos e minutos e horas, sem pontos de exclamação, sem gargalhadas, sem a alma cheia de jovialidade. 
Sou a mãe da M. e isso basta para me encher o coração de amor, para ser invadida por um onda de ternura quando a tenho nos braços e para que tudo o resto não me impeça de me sentir assoberbada, de vez em quando. 

terça-feira, 19 de março de 2013

Paradoxo I

É com certeza um paradoxo a quantidade de tempo livre que eu tenho no meu posto de trabalho. Até quando, pergunto eu?

domingo, 17 de março de 2013

Atitudes

A atitude conscienciosa que me leva a reconhecer que estou muitas vezes errada é a mesma que me impele a continuar a tentar ser sempre uma melhor pessoa. E gosto disso em mim. É bom reconhecer o bom e o 'não-tão-bom' de nós próprios, saber que todos os dias temos a oportunidade de apreender algo de novo e de o utilizar da melhor forma na construção e refinamento da nossa forma de estar na vida.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Hera

O que eu gostava era sair de casa todos os dias de manhã, cheia de energia, ter os dias preenchidos com coisas muito interessantes, conciliar todas as tarefas de mãe trabalhadora e chegar à noite com a noção de dever cumprido. Neste plano de imaginação sobraria sempre tempo para me deitar a horas normais e ler uma boa meia hora antes de conciliar o sono. Mas, não é bem assim que acontece. 

É suposto sair todos os dias de manhã, deixar a bebé e ir trabalhar e eu vou. 
É suposto voltar ao fim de umas horas de trabalho e eu volto. 
É suposto começar na segunda parte da minha vida profissional durante a tarde, mas não começo. 

Geralmente, vegeto um bocadinho, imagino que é nesse dia que vai mudar tudo e concentro-me depois em tarefas domésticas e na pequena M. que entretanto já acordou da sesta. Era suposto ter um fluxo de trabalho regular mas não tenho. E isso, a princípio, aborrecia-me. Agora passou a tornar-se um hábito. Este hábito é uma planta trepadeira, que cobre muros e paredes e emoldura janelas de casas. 

sábado, 9 de março de 2013

Seis meses

Seis meses.
Seis meses que mudaram tanto em mim, que me tornaram tão mais forte, tão mais resistente mas tão mais sensível.
Seis meses de doçura, de sorrisos, de descobertas, de novas realidades.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Provações

Não sou uma pessoa muito religiosa mas há uma frase que tenho repetido para mim mesma nestes últimos dias. É mais ou menos assim: "God will not give us more than we can handle", que é como quem diz "Deus não nos dará mais do que possamos suportar". Quero encarar assim. E, em vez de me queixar e de repetir 350 mil vezes "porquê a mim?", vou ser forte e pensar todos os dias "porque não a mim?". Eu não sou melhor que ninguém e poderei agora estar apenas a ser posta à prova. Vamos ver como me saio de mais este desafio. Entretanto, é só sorrir e acenar!!

Tic tac

O tempo galga os dias e as horas e deixa um rasto de uma saudade atroz pelo caminho. Há dias em que varre tudo tão rapidamente que não temos oportunidade de sentir e degustar o prazer dos dias. Dou por mim a pensar neste processo de transformação do futuro em passado e a tentar encontrar a melhor forma de saborear a vida.

segunda-feira, 4 de março de 2013

A coragem por companheira

Tenho para mim que todos estes acontecimentos recentes a nível profissional podem ser um sinal de que deverei mudar alguma coisa na minha vida. A passividade que tem pautado o meu contexto de trabalho será certamente um aviso de que é preciso alterar a direcção do percurso. Talvez tenha oferecido demasiada resistência noutras alturas, ou mostrado algum medo que fazia com que recolhesse sempre na minha concha confortável e evitasse confrontos. Sinto que está mesmo na hora de mudar. Resta saber se a coragem me vai acompanhar.