domingo, 24 de março de 2013

Reminiscências

Tinha uma adoração especial pelo meu avô paterno que nos deixou há mais de uma década. Este avô tinha sempre uma brincadeira ou tempo livre para os netos, ou uma forma de nos sentirmos especiais ao pé dele. Eu tinha um orgulho imenso no meu avô. Dele guardo muitas lembranças, desde as brincadeiras, à forma carinhosa como falava connosco, ao colo e ao cheiro. O meu avô cheirava a campo e a oliveira. Quando estava ao colo dele, ou mais tarde, quando ele me abraçava sentia sempre aquele cheiro que nunca soube muito bem descrever mas que ficou gravado na minha memória de forma indelével. 
Em contrapartida, a minha relação com o meu pai foi sempre um bocado difícil. Por razões que nunca compreenderei muito bem, senti sempre um certo distanciamento dele em relação a mim, uma forma de tratamento que nunca se pautou pela compreensão, nem pela tolerância e, claro, sempre me senti magoada por causa disso. Durante quase toda a minha existência tentei mudar a reacção dele para comigo, de todas as formas possíveis e imagináveis. Nunca consegui. E, se em criança e adolescente esse facto foi um problema para mim, com o passar dos anos passei a encarar com outra naturalidade e a aceitar a situação como um facto que não teria 'volta-a-dar'.  
Um dia destes, o meu pai veio visitar a M. e quando ele saiu reparei que deixou no ar um cheiro que eu conhecia de outros tempos: a campo e a oliveira. Desejo do fundo do meu coração que a M. tenha um avô tão especial como eu tive.

Sem comentários:

Enviar um comentário